Texto:Aline Nascimento*, g1 Campinas e região
Novo texto permite que estudantes refaçam, no ano seguinte, disciplinas caso reprovem por nota. Percurso formativo será feito antes do início da graduação; entenda.
A Câmara de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) da Unicamp aprovou, em reunião nesta terça-feira (5), uma alteração no programa formativo para estudantes indígenas – ano “extra” que será implantado a partir de 2025 pela universidade com objetivo de reduzir o índice de desistência dos alunos indígenas na graduação.
A mudança garante aos estudantes indígenas a possibilidade de, em caso de reprovação por nota nas disciplinas formativas, refazerem no ano seguinte sem que eles percam a vaga na graduação.
Na proposta original, o programa previa o desligamento do estudante em caso de desistência de matrícula ou reprovação em alguma disciplina.
Professora do Departamento de Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), Artionka Capiberibe explicou, durante a reunião deliberativa da Cepe, nesta terça, que a mudança foi pensada após o debate ocorrido ainda na reunião de aprovação do projeto, chamado formalmente de Programa Formativo Intercultural para Ingressantes pelo Vestibular Indígena (ProFIIVI).
“Foi muito importante que na Cepe de maio tivesse sido questionado o fato de que o programa estava muito – para resumir – draconiano em relação ao desligamento dos estudantes. A gente pôde analisar os dados e propor algo que é plausível e que vai ser mais tranquilo para os estudantes indígenas, uma vez chegando aqui”, explicou a docente.
“Eles terão um ano de ProFIIVI, de programa formativo, e, caso reprovem, têm mais um ano para poder recuperar e, finalmente, entrarem nos cursos que prestaram o vestibular com mais segurança, com mais tranquilidade”, disse, durante a reunião desta terça.
A alteração foi aprovada pela Cepe por 25 votos favoráveis e uma abstenção. Ao g1, a professora explicou, no entanto, que é preciso que os estudantes sejam aprovados ao menos em uma das disciplinas formativas para garantirem o direito de fazer as demais no ano seguinte.
“Essa regra acompanha o item II do artigo 49 do regimento geral da graduação, que prevê o cancelamento de matrícula quando não há aprovação em nenhuma das disciplinas em qualquer um dos dois primeiros semestres”, detalhou a professora.
O que é o programa?
Os alunos indígenas que ingressarem na Unicamp vão começar os estudos pelo percurso formativo obrigatório, que vai reunir aulas de disciplinas gerais e específicas. Esse percurso será aplicado antes do curso de graduação.
Assim como qualquer disciplina, as formativas travam a evolução dos alunos se não houver aprovação. Ou seja, para o aluno iniciar as aulas do curso de graduação, deve ser aprovado em todas as matérias propostas no novo programa.
Pensado como medida para enfrentar a alta taxa de desistência dos alunos, o ProFIIVI foi aprovado pela Cepe em 7 de maio.
Nas reuniões da Cepe, os membros deliberam sobre medidas que visem incentivar e dinamizar a realização de pesquisas e a melhoria qualitativa do ensino.
O programa será constituído por um núcleo de sete disciplinas que deverão ser cursadas por todos e outras específicas para cada curso.
Segundo a universidade, as matérias escolhidas para compor o ProFIIVI foram pensadas para lidar com as dificuldade dos alunos.
Além disso, prevê uma comissão de graduação que dará suporte aos estudantes indígenas e acompanhará o desempenho acadêmico de cada estudante durante a realização do percurso.
Além das disciplinas comuns, são contemplados oito currículos de áreas específicas:
- Ciências Biológicas e Profissões de Saúde;
- Ciências Exatas, Tecnológicas e da Terra;
- Ciências Humanas;
- Música;
- Dança;
- Artes Visuais;
- Artes Cênicas;
- Comunicação Social – Midialogia.
Antes do novo programa ser idealizado, a universidade idealizou o Percurso Formativo Indígena (PFI), que foi colocado em prática em 2023. O programa foi implementado em Campinas (SP), com os estudantes originários das três unidades da Unicamp.
A Unicamp recebeu a primeira turma de estudantes originários em fevereiro de 2019. Cinco anos depois, um levantamento realizado pela instituição revelou que dos 550 estudantes que ingressaram, apenas cinco conseguiram se formar.