ALDEIA MARACANÃ VERTICAL

Aldeia Vertical
Fonte: Jornal Extra, agosto de 2014

Informações gerais:

Autodenominação: Aldeia Maracanã Vertical

Onde estão no Rio de Janeiro: Rua Frei Caneca, 441, Bloco 15 – Estácio, Rio de Janeiro.

Situação fundiária: O prédio é regularizado, construído com recursos do programa federal “Minha Casa, Minha Vida” e foi entregue pela Secretaria de Estado de Habitação aos indígenas para fins de moradia.

Quantos são na aldeia: Número indefinido.

Família linguística: A Aldeia Maracanã Vertical é um espaço pluriétnico, não havendo apenas uma família linguística.

Breve histórico:

A Aldeia Vertical é uma espécie de “aldeia urbana” localizada no bairro do Estácio, em um conjunto habitacional popular próximo ao Morro do São Carlos e ao Sambódromo, na região central da cidade do Rio de Janeiro. Mais precisamente, situa-se em um dos prédios do Condomínio Zé Kéti, construído em 2014 junto com o condomínio Ismael Silva no terreno do antigo Complexo Presidiário Frei Caneca, demolido em 2010.

A origem da Aldeia Vertical reside no movimento Aldeia Maracanã, de origem pluriétnica, criado em 2006 em uma área ao lado do estádio do Maracanã, na Zona norte do Rio de Janeiro, devido ao seu valor histórico para o indigenismo brasileiro. O casarão ocupado pelos indígenas foi sede do extinto Serviço de Proteção aos Índios (SPI), o primeiro órgão voltado para a questão indígena no país. Em 1953, Darcy Ribeiro havia fundado ali o primeiro museu indígena, contribuindo para a valorização da cultura material indígena por intermédio de pesquisa e catalogação de etnias (FREIRE, 2019). Em 1977, o museu foi transferido para o bairro de Botafogo, onde permanece até hoje, e o prédio ficou sem uso até o ano de 2006, quando um grupo composto por 35 indígenas de 17 etnias diferentes decidiu, após uma reunião ocorrida em um evento na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), ocupar o antigo casarão e fundar ali o Instituto Tamoio dos Povos Originários. Incialmente o número de ocupantes foi variando enormemente, contanto com representantes de etnias como Apurinã (AM), Guajajara (MA), Kaiapó (PA), Karajá (GO), Krahô (MG), Krikati (MA), Pataxó (BA), Tabajara (CE), Tembé (MA), Tucano (AM) e Xukuru-Kariri (AL) (ALBUQUERQUE, 2015).

Em decorrência dos impactos dos megaeventos esportivos que vieram a ocorrer no Rio de Janeiro a partir do final dos anos 2000, e, mais fortemente sobre as áreas do entorno do estádio de futebol, onde seria realizada a Copa do Mundo de 2014, os indígenas da Aldeia Maracanã acabaram sendo violentamente removidos do local no início de 2013.

Naquele momento o grupo dividiu-se. Uma parte dos indígenas não fez qualquer acordo com o Estado e voltou a ocupar o local três anos depois, criado ali a “Aldeia Marakanã Rexiste”. Outra parte foi transferida para alojamentos provisórios em Jacarepaguá, na Zona Oeste da cidade, até ser definitivamente realocada, em 2015, em apartamentos do Programa “Minha Casa, Minha Vida”, no bairro do Estácio. Por exigência dos indígenas, todas as 20 famílias − representantes das etnias Pankararu, Fulni-ô, Guajajara, Pataxó, Tupinambá, Puri, Tukano, Ashaninka, Guarani, Kaingang, Karajás, Satere-Mawé, Tabajara, etc. − foram instaladas no mesmo prédio, que logo ficou conhecido como “Aldeia Vertical”. Ainda em 2015, foi fundada ali a Associação Indígena Aldeia Maracanã (AIAM), tendo por objetivo preservar, valorizar e difundir a cultura e os saberes indígenas; apoiando e lutando pelos direitos dos povos originários do Brasil.

No prédio foi fundada ainda uma web rádio chamada Yandê, sendo o primeiro veículo do Brasil no formato inteiramente conduzido por indígenas. A rádio tem como objetivo “difundir a cultura indígena através do seu próprio ponto de vista” (AFONSO, 2017, p 24) e busca atingir tanto o público indígena quanto o não indígena, levando informações sobre o panorama dos povos originários e desconstruindo possíveis preconceitos dos outros moradores.

O condomínio, por conta do regulamento interno, não permite alterações nas fachadas e nem transformações no ambiente externo. Porém, próximo ao Morro do São Carlos, no que outrora foi um terreno baldio abandonado, foi construída uma horta comunitária gerida pelos indígenas, mas que também conta com a participação de não indígenas.

Texto elaborado por Erlan Raposo e Leticia de Luna

Referência bibliográfica:

AFONSO, Camila Bevilaqua. A Aldeia Vertical e a Horta no Morro: Trajetórias Indígenas no Rio de Janeiro. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Universidade federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.

ALBUQUERQUE, Marcos Alexandre dos Santos. Indígenas na cidade do Rio de Janeiro. Cadernos do Desenvolvimento Fuminense, Rio de Janeiro, n. 7, pp. 149-168, jan/jun. 2015.

FREIRE, Leticia de Luna. Indígenas na cidade olímpica: o caso da “Aldeia Maracanã”. KANT DE LIMA, Roberto; MOTA, Fabio Reis; VEIGA, Felipe Berocan (Orgs). Pensando o Rio: meio ambiente, espaço público e conflitos identitários. Niterói: Intertexto, p. 13-37, 2019.

 

Foto: Disponível em https://extra.globo.com/noticias/rio/aldeia-vertical-indios-tentam-se-adaptar-realidade-da-vida-em-condominio-no-minha-casa-minha-vida-13556705.html Acesso em 23/02/2022

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