O que o filme “ainda estou aqui” tem a ver com a luta dos povos indígenas?

Texto: Articulação Brasileira de Indígenas Jornalistas (instagram)

No lugar da rendição diante da barbárie, temos a celebração da vida. Diante da tortura, do assassinato e da ocultação de cadáveres, temos uma família reunida à mesa. Diante da estrutura e logística da ditadura militar, temos uma mulher lutando por justiça”. 𝑭𝒆𝒓𝒏𝒂𝒏𝒅𝒐 𝑫𝒐𝒎𝒊𝒏𝒈𝒖𝒆𝒔 – 𝑩𝒓𝒂𝒔𝒊𝒍 𝒅𝒆 𝑭𝒂𝒕𝒐

O que a história retratada no filme “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, tem a ver com os povos indígenas? Em uma das cenas, Eunice Paiva ministra uma aula sobre o povo Pataxó, levantando dois pontos importantes. Primeiro, o retrato da ditadura militar, período em que os povos indígenas foram negligenciados, retirados de seus territórios, torturados e vítimas de tentativas de extermínio, conforme aponta o relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV). Entre os povos que mais sofreram estão: Cinta-Larga (RO), Waimiri-Atroari (AM), Tapayuna (MT), Yanomami (AM/RR), Xetá (PR), Panará (MT), Parakanã (PA), Xavante de Marãiwatsédé (MT), Araweté (PA) e Arara (PA). O relatório estima que o número de indígenas mortos pode ser superior a 8.350.

O segundo ponto é a relação de Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres, com os povos indígenas. Eunice foi uma defensora dos direitos indígenas, advogou para a expropriação indevida de terras e contribuiu com a mudança de leis para proteção desses povos, como retratado no livro “O Estado contra o Índio”, publicado em 1985, que revisa a legislação indigenista brasileira desde a fundação da República. Além disso, ela também assinou um artigo intitulado “Defendam os Pataxós”, junto com Manuela Carneiro da Cunha.

“Ainda Estou Aqui” comunica que a memória da ditadura permanece viva e reafirma que é possível sobreviver à tortura, pois a família que não teve o direito de velar e sepultar o pai é a mesma que não chora diante da desumanização da ditadura. O longa-metragem, além de nos fazer lembrar, também nos alerta para futuras (ou atuais) investidas totalitárias e projetos políticos autoritários. Nunca devemos esquecer que a história dos povos indígenas também faz parte da história do Brasil.

Ainda estamos aqui.

Compartilhar

Rodrigo Martins

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Next Post

Professora Ana Paula da Silva (PROINDIO/UERJ) participará amanhã (29/01) do programa "Faixa Livre"

ter jan 28 , 2025
Texto: Rodrigo Martins A professora de História da Universidade Federal Rural  do Rio de Janeiro  (UFFRJ) e pesquisadora do PROINDIO (UERJ) Ana Paula da Silva participará amanhã (29/01) do programa Faixa Livre. Assista o programa na íntegra através do canal oficial do programa 👇👇👇 Share on Facebook Tweet it Email […]

Você pode gostar: