#IndígenasNoRJ: O futuro é ancestral

Texto: Felipe Lucena (Diário do Rio- Site)

É sobre o futuro dos povos indígenas no Rio de Janeiro que a última matéria da série #IndígenasNoRJ vai tratar

    Escola indígena na Aldeia Mata Verde Bonita, em Maricá. Foto: Felipe Lucena

    Em seu livro Futuro Ancestral, o líder indígena Ailton Krenak lança uma provocação sobre o que a humanidade tem feito com a vida no planeta terra. Na coleção de textos produzidos entre 2020 e 2021 e em falas em palestras e outras oportunidades, ele comenta a ideia do que virá e de como as ilusões sobre o posterior nos afastam do que está ao nosso redor agora. “Os rios, esses seres que sempre habitaram os mundos em diferentes formas, são quem me sugerem que, se há futuro a ser cogitado, esse futuro é ancestral, porque já estava aqui”, afirma o pensador. Krenak ainda fala: “Nossos ancestrais já falaram que a terra é nossa mãe. Como conversar com quem quer predar a nossa mãe?”. É sobre o futuro dos povos indígenas no Rio de Janeiro que a última matéria da série #IndígenasNoRJ vai tratar.

    Ao longo desta série de reportagens produzida pelo DIÁRIO DO RIO, alguns problemas que neblinam o futuro dos povos indígenas em nosso estado foram mostrados. A luta por terra é historicamente dolorosa e desigual. Junto com a dificuldade para uma educação de qualidade para as crianças e jovens herdeiros da ancestralidade dos povos originários. A educação é o futuro que vai garantir uma vida melhor e a manutenção dos costumes tradicionais nas aldeias. Essa é uma das principais reivindicações no Rio de Janeiro.

    Na maior aldeia do estado, a Sapukai, em Angra dos Reis, um grupo de jovens se manifestou, através de uma carta, pedindo uma escola de ensino médio para eles. Como mostramos em uma matéria anterior desta série, no local há ensino fundamental, mas quando os alunos alcançam a idade para fazer o ensino médio precisam sair da aldeia ou parar de estudar.

    “Nossos jovens querem estudar e não conseguem. É a educação que vai melhorar a vida deles no futuro. Sem isso, ficam sem rumo”, pontua o cacique Argemiro, da Aldeia Sapukai.

    Por falta de estrutura física, dificuldade para formar professores especializados e outras questões, a educação indígena é um problema no Rio de Janeiro. É considerada uma das piores do país, o que obriga os jovens a saírem do estado para estudar ou abandonarem os estudos. Quando decidem sair, os jovens fazem uma aposta no futuro, mas deixam suas raízes de sempre, as famílias, desestabilizadas.

    “O ideal é ter escola aqui. Para ficarem perto, na casa deles“, afirma Lucas, liderança da Aldeia Sapukai. O pedido dos indígenas é ter escolas que funcionem com a cartilha do Ministério da Educação (MEC) nos territórios onde vivem. São as chamadas Escolas Indígenas Diferenciadas.

    De acordo com o MEC, as escolas indígenas diferenciadas “pautam suas ações e estratégias de transmissão, produção e reprodução de conhecimentos na perspectiva de possibilitar às coletividades indígenas a recuperação de suas memórias históricas, a reafirmação de suas identidades étnicas, a valorização de suas línguas”. Ou seja, são espaços de ensino como os outros, com os mesmos conteúdos que são aplicados em escolas que não estão em áreas indígenas, mas respeitando e aplicando a cultura dos povos originários.

    As escolas dentro das aldeias são de extrema importância não só para os estudos de crianças e jovens, mas também como espaços de encontro comunitários, de debates e até mesmo de alimentação em áreas mais precárias. Educação é sobrevivência.

    Antes de ler a carta mostrada no vídeo acima, os jovens guaranis estavam tímidos e atentos às falas do cacique Argemiro, do líder Lucas e de outras pessoas da Aldeia Sapukai. Quando chegou a hora de falar em público para os visitantes, de vários órgãos representando suas respectivas instituições no comboio de escuta coletiva organizado pela Ouvidoria da Defensoria Pública do Rio de Janeiro e pelo Conselho Estadual dos Direitos Indígenas – CEDIND, o menino indígena mostrou coragem para dar seu recado em nome de todos.

    Na sequência da leitura, eles se divertiram fazendo fotos com o celular usando o cocar na cabeça. Revezavam-se nas selfies e no adereço. A modernidade da juventude e a tradição de um povo ancestral convivendo normalmente em nome da sobrevivência de um povo, como deve ser.

      O texto da carta lida pelo jovem guarani. Foto: Felipe Lucena

      Na carta, destinada à secretária estadual de educação, Roberta Barreto, os jovens pedem a escola de ensino médio na Aldeia Sapukai falando “aqui estudamos para escrever nossa cultura e nosso modo de ver o mundo”. O texto termina dizendo que o sonho é chegar às universidades para ajudar o povo. A educação é essencial para o futuro dos povos indígenas do Rio de Janeiro. Educação olhando para o mundo além da aldeia, mas sem nunca perder as raízes, a origem, a história. O futuro só será possível se for ancestral.

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      Rodrigo Martins

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