Texto e fotos: Vitor Batista (Pós-graduando em Educação Cultura e Comunicação em Periferias – PPGECC e Pesquisador do OPIERJ/UERJ)
Em abril, celebramos e promovemos a visibilidade aos Povos Indígenas, em todo território nacional e é especificamente no dia 19 deste mês que reconhecemos a importância destes povos a nós, enquanto nação, visando um resgate inter-étnico, cultural e identitário para a reconstrução de nossas ideias acerca do conhecimento que nos foram ensinados no decorrer do tempo, contrariando o saber, dito como legítimo aplicado aos sujeitos indígenas que aqui habitam. Em diversas cidades do estado do Rio de Janeiro foram realizados eventos culturais, integrando a sociedade civil da relevância desta data.
Esse ano de 2024 aconteceu o Abril Indígena em Duque de Caxias na Baixada Fluminense, no espaço do ponto de Cultura Lira de Ouro e idealizadora. O Abril indígena foi organizado pelo coletivo Tuxaua rede de saberes indígenas e cultura popular e teve como Curadora e idealizadora do evento a Liderança e ativista Ana Maria Kariri.
O evento não apenas celebrou uma data de lembrança das presenças indígenas na Baixada Fluminense, mais elencou uma programação sólida de rupturas e desconstrução de preconceitos que ainda circulam pela sociedade, no qual presenciamos uma roda de conversa com Mestre Jagunço da etnia Xocó que relembrou seu tempo de infância na aldeia e se descobriu poeta na adolescência quando escreveu sua primeira poesia e após vir para cidade sofreu com o choque cultural e viu sua liberdade sendo suprimida, a discriminação pelo olhar que o intimidava e o questionamento que fez a si mesmo: ‘’O que é minha cultura num território como esse?’’
Hoje aos 52 anos de idade, Jagunço é fundador de A Casa de Bambas, uma ONG localizada na comunidade de Cordovil que reafirma a cultura indígena trazendo um duplo sentido, quando ele afirma que sua organização é seu território naquele território. O que significa que parte de seu local de origem, bem como seus costumes e tradições étnicas se faz presente no atual lugar que ele habita. Rompendo com as ideias que na favela não existe cultura e saberes, Jagunço nos chama atenção em seus relatos ao dizer que A Casa de Bambas não trabalha apenas em fortalecer sua identidade como indígena, mas contempla mais de 800 jovens, em busca de resgatá-los da vulnerabilidade que uma comunidade pode apresentar.
O evento contou ainda com: apresentação teatral; roda de poesia e diálogos ancestrais com professoras do estado do Rio de Janeiro e Duque de Caxias; música ao vivo; exposição artística com saberes indígenas; venda de artesanatos e literaturas; comidas típicas como o açaí com peixe, tacaca e cupuaçu e presença de indígenas com diferentes etnias que são residentes em municípios da Baixada.
Com um forte caráter ético e político os indígenas presentes no evento destacam a importância de ampliar a questão indígena todos os dias, se fazendo presente em nossas vidas e não se limitando apenas a 19 de abril quando a data ganha mais evidência e nos abre caminhos reflexivos, dentre eles que ‘’antes mesmo de Lei 11.645/2008 ser implementada, já existia um trabalho de luta e reafirmação do nosso povo’’ e que ‘’há urgência de implementação de um currículo multicultural’’ (Relata Ana Maria Kariri).