Texto: Roberto Peixoto e Carolina Dantas, g1
Dados preliminares mostram que, até maio deste ano, 5 indígenas e 3 ambientalistas foram assassinados. Número não considera caso Bruno e Dom.
Imagem: Expansão do garimpo na terra Yanomami, em foto de abril de 2021. — Foto: Christian Braga/Greenpeace
Em 2022, até maio, 19 pessoas foram assassinadas em conflitos no campo no Brasil, segundo mostra um relatório preliminar do Centro de Documentação da Comissão Pastoral da Terra (Cedoc-CPT).
A título de comparação, em todo o ano de 2021 foram registrados 35 homicídios.
Os novos dados, que não consideram o caso do indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips, mostram que:
- 4 assassinatos ocorreram no estado do Pará, que teve o maior número de casos: 3 ambientalistas foram assassinados e um sem terra;
- Do total de homicídios, 5 foram de indígenas e 2 de quilombolas;
- Além disso, ainda de acordo com a CPT, 4 sem terras, 2 assentados e outros 2 pequenos proprietários rurais foram assassinados até maio no país.
Carlos Lima, da coordenação nacional da CPT, avalia que esses números são uma crescente e aponta tanto falhas do governo federal na fiscalização de conflitos por terras no Brasil como numa “certeza” da impunidade que leva ao aumento dos crimes.
“É preciso compreender essa violência que estamos vivendo dentro de um contexto de um governo que fez a opção de colocar o Estado a serviço da grilagem, do garimpo ilegal, da extração de madeira. Um Estado contrário a vida dos povos, das comunidades e das florestas”, diz.
“É impossível continuar vivendo com essa situação. A sociedade brasileira tem que agir de imediato e cobrar a defesa das comunidades […]. Crimes contra os indígenas, contra as lideranças, contra os ambientalistas precisam ser punidos exemplarmente”, acrescenta.
Quem eram os ambientalistas assassinados?
No início do ano, conforme mostrou o g1, uma família de ambientalistas foi assassinada em São Félix do Xingu, no sudeste do Pará. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), José Gomes, conhecido como Zé do Lago, a mulher Márcia Nunes Lisboa e a filha Joene Nunes Lisboa foram mortos a tiros.
Ainda de acordo com o MPF, o casal vivia há mais de 20 anos no local e desenvolvia um projeto ambiental de proteção de quelônios, “repovoando as águas do Xingu com filhotes de tartarugas todos os anos”.
À época, o Ministério Público Federal afirmou que os fatos eram de extrema gravidade e que se inseriam em um contexto de reiterados ataques a ambientalistas e defensores de direitos humanos no país.
Quem eram os indígenas assassinados?
A maioria dos indígenas assassinados (3) eram da Terra Indígena Yanomami, maior reserva indígena do Brasil, localizada entre o Amazonas e Roraima.
Os três casos do relatório são datados de 11 de abril, quando foi noticiado que dois indígenas morreram em um conflito armado na terra indígena, e de 25 de abril, quando também foi noticiado que uma ianomâmi de 12 anos teria sido estuprada e morta por garimpeiros na reserva.
Na época dos casos, ao g1, o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami, afirmou que garimpeiros ilegais teriam incentivado o conflito de 11 de abril, entregando armas para indígenas favoráveis à exploração de minério da reserva.
Já sobre o caso da adolescente, Hekurari disse que ela estava sozinha na comunidade Aracaçá, em Amajarí, no norte de Roraima, quando foi atacada por garimpeiros. No início de maio, o Jornal Nacional mostrou que a investigação da Polícia Federal sobre a denúncia de homicídio, que não tinha sido concluída, apontou que o caso foi mal-entendido e que não havia nenhum vestígio dos crimes relatados no local.
Já os outros dois indígenas do relatório da CPT são, Alex Recarte Vasques Lopes, assassinado em Coronel Sapucaia, no Mato Grosso do Sul, e Eliseu Kanela, do povo Kanela do Araguaia, no Mato Grosso.