Texto: Poliana Casemiro – Site G1
Estudo inédito conseguiu rastrear partículas de chuva e identificou que umidade gerada em terras indígenas da Amazônia abastecem a chuva em 18 estados e no DF. Especialistas apontam que, em meio a perdas por seca e discussões do Marco Temporal, indígenas são imprescindíveis para manter o setor e proteger a economia.
Alvo do desmatamento impulsionado, principalmente, pelo avanço da produção agrícola e pecuária, as terras indígenas da Amazônia representam a esperança para esses mesmos setores, que acumulam perdas devido à seca extrema que afeta o país. Uma pesquisa inédita revela que 80% das áreas de produção do setor no Brasil recebe chuvas formadas em áreas indígenas da floresta.
➡️ A seca extrema, considerada a mais longa e extensa da história recente do país, afeta diretamente a agricultura e pecuária, pilares da economia nacional responsáveis por 22% do Produto Interno Bruto (PIB).
Segundo a Confederação Nacional dos Municípios, as crises climáticas já causaram perdas de R$ 287 bilhões no setor nos últimos dez anos.
Mais do que saber que a floresta de pé é importante para o equilíbrio do clima, o estudo inédito feito pelo grupo de pesquisa em ecologia tropical do Instituto Serrapilheira aponta que ela é fundamental para a manutenção desses setores da economia.
- 🌳 Segundo a pesquisa, a umidade que vem das terras indígenas na Amazônia foi responsável por abastecer as áreas produtivas no setor em 18 estados e no Distrito Federal.
- 🌳 Da lista, os nove estados que mais receberam água de terras indígenas amazônicas produziram juntos R$338 bilhões – cerca de 57% da renda agropecuária nacional (dados de 2021).
Na contramão, mesmo a produção em Rondônia e Mato Grosso dependendo da água vinda das TIs, eles estão entre os estados que mais desmatam florestas desde 1985.
Como terras indígenas podem proteger a economia?
O estudo inédito analisou como a umidade gerada nas terras indígenas percorre o país através dos chamados rios voadores, resultando na formação de chuvas. Os pesquisadores rastrearam as partículas de chuva desde sua origem até os locais de destino.
➡️ Nesse processo, a água evaporada do oceano se transforma em chuva, sendo transportada por correntes de vento até a região amazônica. Lá, a vegetação absorve a água e a devolve gradualmente à atmosfera, permitindo que os ventos a distribuam pelo território brasileiro. (Entenda melhor abaixo)
Imagem: Infografico elaborado pelo G1 em 2013
Segundo o IBGE, mais de 90% da agricultura brasileira depende das chuvas devido à ausência de sistemas de irrigação. Isso torna o setor altamente vulnerável a mudanças nos padrões de precipitação, o que pode comprometer a produção, com impactos econômicos que vão além das importações, mas ao preço da comida que chega ao prato dos brasileiros.
➡️ Um exemplo é o Paraná, grande produtor de soja e milho, duas das principais commodities brasileiras. Em 2023, o estado gerou R$ 90,5 bilhões com esses produtos, segundo o governo estadual. Contudo, neste ano, já registrou perdas agrícolas significativas devido à seca extrema, totalizando R$ 10 bilhões até setembro.
Imagem: Estados com influência de chuvas de terras indígenas — Foto: Arte/g1
Outro exemplo é o Acre, que enfrenta a seca que castiga de forma mais severa os estados do Norte. O estado tem uma grande rede de produção agrícola, sendo um grande exportado de soja. No ano passado, o estado chegou a US$ 18,8 milhões arrecadados com o grão, segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e de Serviços.
O estado teve mais de 300 mil pessoas afetadas pela seca severa, o que não fez com que só a commoditie fosse afetada, como também a agricultura familiar. Sem chuva, chegou a faltar alguns legumes e verduras no estado. (Leia mais aqui)
“Ao todo, 57% da renda do país com a agropecuária está focada nos nove estados que mais dependem das chuvas das terras indígenas para ter água. A falta de chuva com a ameaça constante a essas terras, resultado do avanço do desmatamento, afeta a economia do país e das famílias brasileiras”, explica Caio Mattos, que é autor do estudo.
O estudo aponta que, em determinadas regiões desses estados, até um terço das chuvas têm origem nos territórios indígenas.
Imagem: Ao todo, 18 estados e o DF dependem da umidade das TIs para a formação de chuvas — Foto: Arte/g1
As terras indígenas são áreas protegidas, mas vem sendo ameaçadas pelo desmatamento ilegal feito, principalmente, pela especulação de terras para o agronegócio.