Texto: Mídia Indígena Oficial
O caso Luciano Huck evidencia mais uma vez que, quando não há indígenas produzindo, coordenando, revisando ou participando das decisões editoriais, a mídia tende a reproduzir estereótipos ou a buscar imagens “encaixáveis”, mesmo que isso signifique apagar a complexidade da vida nas aldeias.
A contratação de jornalistas e comunicadores indígenas não é uma concessão: é uma necessidade ética, política e profissional. A presença indígena na comunicação não é apenas representativa, é transformadora. Ela desloca o eixo da narrativa: deixa de ser “sobre nós” e passa a ser “com nós”.
O debate que o vídeo escancara. No fim, o caso não é apenas sobre direção de arte. É sobre quem decide o que é “autêntico” e o que deve ser apagado na imagem de um povo. A tentativa de esconder celulares e roupas contemporâneas parte de uma visão que continua confinando povos indígenas ao passado, como se a tecnologia fosse uma ameaça à identidade, quando, na realidade, é uma aliada estratégica na defesa da vida, dos territórios e das culturas.
Se a mídia brasileira quer, de fato, construir pontes com os povos originários, o primeiro passo é simples: contratar indígenas para construir, pensar e dirigir as narrativas. Nada sobre nós sem nós, e, sobretudo, nada que tente nos limpar ou nos enquadrar numa ideia de cultura que não existe.
