População indígena quase dobrou em uma década, indica prévia do Censo

Texto: Murilo Pajolla

    Foto: Giorgia Prates

    Especialista vê aumento no autorreconhecimento e diz que impacto pode ser positivo nas políticas públicas

    Censo Demográfico já registra mais de 1,65 milhão de indígenas no Brasil, quase o dobro do contabilizado no último levantamento em 2010, quando 896 mil pessoas se declararam indígenas.

    O número mais recente foi divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta segunda-feira (3). O órgão informou que os dados são preliminares e podem aumentar.

    A prévia inclui a coleta de dados na Terra Indígena Yanomami, onde a população enfrenta uma crise humanitária provocada pelo garimpo ilegal.

    Os recenseadores tiveram dificuldade de acessar locais remotos com presença garimpeira ainda forte, mesmo com a operação de expulsão dos invasores conduzida pelo governo federal.

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    O efeito do autorreconhecimento indígena nas políticas públicas

    O pesquisador da política indigenista e professor das universidades federais do Pará (UFPA) e de Viçosa (UFV), Leonardo Barros, afirma que o crescimento significativo da população indígena já era esperado. Segundo ele, uma das explicações é a taxa média de natalidade nas comunidades indígenas, que é maior do que a registrada entre não indígenas.

    “O segundo fator é um intenso processo de autorreconhecimento dos indígenas que vem aumentando ao longo dos últimos 20 anos, em decorrência da ampliação da participação política desses povos e da sua politização. Isso fez com que, principalmente no Nordeste, mas também em outras regiões indígenas que não se reconheciam como tal, eles passassem a se designar como indígenas”, explica Barros.

    O pesquisador diz que os novos dados trazem subsídios para a criação de novas políticas públicas voltadas aos povos. O governo Lula (PT) criou neste ano o primeiro Ministério dos Povos Indígenas no país, comandado por lideranças reconhecidas como legítimas pelas organizações indígenas.

    “Acredito que ficará mais visível a necessidade premente do desenvolvimento de políticas relacionadas à educação, saúde e saneamento básico, além das políticas já tradicionais, como a demarcação de terras indígenas. Outros elementos podem surgir a partir desses números, como, por exemplo, uma melhor compreensão do fenômeno dos indígenas que se encontram em situação urbana”, avalia o professor da UFPA.

    Aumento em 2000 surpreendeu IBGE

    O Censo coleta dados com base nos quesitos cor ou raça desde 1991. Em 2000, a população de povos originários excedeu as expectativas do IBGE ao saltar de 294 mil para 734 mil pessoas em nove anos.

    Na época, o IBGE avaliou que o aumento expressivo não estava relacionado apenas ao aumento da natalidade, mas também a um possível crescimento no autorreconhecimento dessas populações, principalmente nas áreas urbanas do Brasil.

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    Perguntas específicas para os indígenas, relacionadas ao povo ou à língua, foram introduzidas pela primeira no Censo de 2010. No mesmo ano, o questionário passou também a incluir a localização do domicílio – dentro ou fora de terras indígenas reconhecidas pelo governo federal.

     

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    Rodrigo Martins

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