Texto: Martinha Mendonça Guajajara
A memória e a produção de conhecimento dos povos indígenas são fortalecidas quando partem da própria experiência e da vida nos territórios. Nesse sentido, o lançamento do livro Arandu Rapyta – Káujo Oguatava’e Ka’aguy Nhendu Rupi: Saberes e raízes, histórias que caminham com os sons da floresta representa um marco para a Educação Escolar Indígena no Rio de Janeiro. A obra reúne histórias, atividades, desenhos e canções que nascem do cotidiano da comunidade Guarani Mbya, afirmando o território como espaço de aprendizado e resistência.
O caderno foi construído coletivamente por professores, lideranças e jovens da Escola Municipal Indígena Guarani Para Poty Nhe’ẽ Ja, com a participação das crianças, cujos desenhos ilustram a obra. Ele expressa a marca da floresta, o valor da língua Guarani e a potência do Nhande Reko, modo de ser guarani, como base para práticas pedagógicas.
Mais do que um material didático local, Arandu Rapyta foi pensado para chegar também a outras escolas indígenas, fortalecendo redes de partilha de saberes. Ao mesmo tempo, é um recurso acessível a professores e escolas não indígenas que buscam desenvolver práticas interculturais na efetivação da Lei 11.645/2008, que torna obrigatório o ensino da história e cultura dos povos indígenas e negros no Brasil. Assim, a obra se torna uma ferramenta para potencializar a educação antirracista e ampliar o diálogo entre territórios, escolas e culturas.
A organização contou com a parceria de professoras da UERJ e da UFF, em diálogo com estudantes vinculados a projetos de extensão, reafirmando o encontro entre escola indígena e universidade na criação de materiais pedagógicos próprios. O livro é uma escrita falada, é palavra-rio que percorreu através da língua Guarani, a língua portuguesa e desaguou em dois materiais bilingues, garantindo a centralidade da língua e sua força na proposta educativa.
Disponível em versão digital, a obra pode ser acessada no acervo virtual do OPIERJ. Convidamos a todas e todos a conhecer, ler e compartilhar este caderno, que é fruto de uma criação coletiva e afirma: a escola indígena é lugar de memória, território e futuro.
Este trabalho não é apenas a entrega de dois materiais didáticos. É um ato de resistência, memória e esperança. É a semente de uma educação que valoriza o corpo-território indígena, reconhece a centralidade das infâncias e juventudes Guarani e aponta para caminhos de interculturalidade verdadeira.

