Texto: Heloísa Traiano
Pesquisadores no Brasil e na Alemanha estão criando um “Duolingo indígena” para gamificar a revitalização de línguas nativas ameaçadas de extinção. O aplicativo está em fase de desenvolvimento e teste em duas comunidades indígenas em Mato Grosso e Rondônia, com a colaboração de pessoas indígenas e o uso de inteligência artificial (IA).
Sem fins comerciais, o projeto nasceu entre os cientistas brasileiros Fabrício Gerardi, da Universidade de Tübingen, e Gustavo Polleti, da Universidade de São Paulo. O objetivo é replicar, gratuitamente e só para línguas indígenas, o sucesso de aplicativos que propõem o aprendizado com tarefas curtas e lúdicas, com adaptações às sensibilidades da cultura indígena.
O BILingo, cujo nome temporário faz alusão a Línguas Indígenas Brasileiras (Brazilian Indigenous Languages, em inglês), não tem associação oficial com outros do setor, apesar de ser fortemente inspirado em alguns deles, sobretudo o Duolingo. O nome deverá ainda ser trocado para outro aportuguesado.
A expectativa é que o lançamento ocorra no ano que vem para as primeiras línguas — a bororo e a makurap. O diálogo com as comunidades pioneiras conta com o apoio de pesquisadores com experiência nos seus territórios.
“Eu acredito ser inédita uma iniciativa com este número de dados e intensidade”, afirma Gerardi. “As colaborações envolvem quem tem expertise em linguística com o trabalho das comunidades indígenas. Nós oferecemos o layout, e o conteúdo quem cria são elas.”
Resgatando letras e sons
O censo de 2010 do IBGE mapeou 274 línguas indígenas faladas no Brasil — menos de um quarto das 1,2 mil que, estimam cientistas, havia antes da chegada dos colonizadores europeus.
Já a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que trabalha com outros dados, contabiliza 190 línguas sob risco de extinção no Brasil.