Discente da UFMA faz história como a primeira mulher indígena e cega a obter o título de doutora na instituição

Texto: Geovanna Selma/Produção: Ingrid  Trindade/ Revisão: Jader Cavalcante

A Universidade Federal do Maranhão (UFMA) celebra um marco histórico com a conquista de Zeneide Cordeiro, a primeira mulher cega e indígena a defender uma tese de doutorado na instituição. Formada pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS), Zeneide alcançou esse feito inédito ao concluir uma pesquisa sobre os Awá da Mata, indígenas conhecidos pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) como Awá-Guajá isolados.

Seu ingresso foi feito por meio do processo seletivo do programa, mas, como ela explica, houve desafios específicos: “O grau de dificuldade que senti, imagino que seja a dificuldade de qualquer pessoa em ingressar em um curso de doutorado, embora eu tenha características e necessidades específicas por ser uma pessoa cega”.

Sua tese, que seguiu os padrões científicos exigidos, utilizou tecnologias de acessibilidade como leitores de tela, gravadores e outros recursos. A pesquisa teve como tema os Awás da Mata, indígenas que vivem de maneira autônoma nas florestas do Maranhão, em terras como Ariboia, Awá, Alto Turiaçu e Caru. A tese faz parte do Projeto “Conservação da biodiversidade: interface da economia criativa com a qualidade ambiental”, financiado pela CAPES, um suporte essencial para suporte da execução da pesquisa, no âmbito do PDPG Amazônia Legal.

A professora titular do Departamento de Sociologia e Antropologia Elizabeth Maria Beserra Coelho, que orientou Zeneide no mestrado e doutorado, destacou a dedicação e a responsabilidade da pesquisadora ao longo de sua trajetória acadêmica. “Conheci Zeneide durante seu curso de mestrado, quando me procurou para orientar sua dissertação. Sempre foi tranquilo trabalhar com ela, era uma aluna responsável e esforçada. Foi muito gratificante orientá-la, e tenho muito orgulho das suas conquistas”, declarou Elizabeth.

A pró-reitora da Agência de Inovação, Empreendedorismo, Pesquisa, Pós-graduação e Internacionalização (Ageufma), Flávia Nascimento, ao comentar o feito, destacou a relevância desse marco para a instituição. “O exemplo de Zeneide nos inspira a continuar promovendo uma Universidade cada vez mais inclusiva e atenta às necessidades de todos. É um orgulho para a UFMA poder contar com uma trajetória tão significativa e inovadora como a dela”, exclamou a pró-reitora.

Pioneirismos

Zeneide, que iniciou sua trajetória acadêmica em 2008 no curso de Educação Artística com habilitação em Artes Plásticas, acumulou uma série de conquistas ao longo dos anos. Ela foi a primeira pessoa cega a concluir um mestrado na UFMA, em Políticas Públicas, e agora se consolida como a primeira doutora cega e indígena da Universidade. Sua caminhada é marcada por um forte compromisso com a inclusão, acessibilidade e direitos humanos.

Entre as várias iniciativas que liderou, destaca-se o projeto ‘Visão Cega’ e a criação do método de audiodescrição criativa, voltado à acessibilidade comunicacional e atitudinal. Além disso, Zeneide é a única atriz, dramaturga e escritora cega do Maranhão, bem como a primeira professora de Arte cega do estado.

A trajetória de Zeneide não é apenas um símbolo de superação pessoal, mas também um marco na luta por uma sociedade mais inclusiva, que reconheça e valorize a diversidade em todos os seus aspectos.

“Me sinto confiante e orgulhosa da minha história e identidade”, Zeneide reflete sobre ocupar esse lugar de pioneirismo.

A UFMA, ao testemunhar esse momento, reforça seu compromisso com a inclusão e a formação de lideranças que contribuem para um mundo mais justo e acessível.

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Rodrigo Martins

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