Resenha do livro: “Ser Mulher Indígena é… Narrativas de mulheres indígenas brasileiras”, Fundação Luterana de Diaconia: Conselho de Missão entre Povos Indígenas, 2018.

Por Rafaela Souza Palmeira, estudante do curso de História da unidade Maracanã da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), bolsista do Núcleo de Estudos sobre Povos Indígenas, Interculturalidade e Educação – NEPIIE/FEBF.

    Imagem: Ser mulher indígenas é…Narrativas de mulheres indigenas brasileiras/Reprodução: Internet

    O Conselho de Missão entre Povos Indígenas (COMIN), que é um órgão que assessora e coordena trabalhos junto aos povos indígenas, publicou em março de 2018 o livro “Ser Mulher Indígena é… Narrativas de mulheres indígenas brasileiras.”  A obra começou com uma campanha nas redes sociais, cada dia do mês a foto de uma mulher indígena era postada junto a uma frase que refletia o seu pensar sobre “o que é ser mulher indígena”.

    O resultado dessa iniciativa foi tão significativa que o Conselho de Missão entre Povos Indígenas (COMIN) decidiu contar um pouco mais sobre a história dessas mulheres guerreiras, que lutam contra o preconceito, que lutam por suas famílias, suas comunidades, suas terras, sua cultura, sua língua materna.  O objetivo desta obra é apresentar a pluralidade de compreensões sobre o que é ser mulher indígena. O livro foi lançado em 2018, possui 68 páginas e foi organizado por Jônia Rodrigues de Lima.

    Esta publicação aborda um assunto essencial que é o preconceito sofrido por mulheres  indígenas através da perspectivadas próprias mulheres. Susana Garen da etnia Kaingang conta que é muito difícil lidar com o preconceito: “A gente bate nas casas pra oferecer o artesanato e tem gente que fecha a porta e a gente fica entristecida.”, conta. Sueli Venhkre também da etnia Kaingang relata episódios ruins que passou no curso técnico e na graduação de enfermagem, ela ouviu um professor dizer que deviam jogar inseticida nos índios que estavam fazendo retomada de uma terra, ela também conta que em um outro momento um professor perguntou “o que uma índia quer com curso de técnico em enfermagem?”

    Este livro também mostra os sonhos das mulheres indígenas para o futuro e os obstáculos que muitas tiveram que enfrentar para estudar. Jéssica Priprá do Povo Xokleng/Laklãnõ conta que foi muito difícil deixar a aldeia para fazer faculdade: “O pior foi encontrar olhares preconceituosos dos não indígenas. Você fica sem chão, pois não é o seu lugar, não é a sua gente. Tive que aguentar durante quatro anos, pois meu objetivo era me formar e dar retorno para o meu povo e ajudar na luta contra os conflitos e preconceito que vivíamos”.

    Sobre o sonho para o futuro, Martina Lopes do Povo Kaingang espera ver a terra demarcada para que a comunidade possa viver bem, ter suas casas e terra para plantar. Dona Maria da etnia Guarani Mbya tem esperança de que os não indígenas possam respeitar o modo de vida Guarani, ela considera a política do país bastante agressiva na tentativa de destruir os povos indígenas e o seu modo de ser.

    Outro tema importante abordado por algumas mulheres indígenas na publicação é a luta pela cultura e permanência da língua materna. Claciane Rienenh é uma das defensoras da língua materna Kaingang dentro da sua comunidade, ela conta que muitos moradores da Terra Indígena Guarita se identificam como indígenas mas não praticam nem falam em sua língua materna. Claciane como professora faz a sua parte e ensina para seus alunos a importância da língua para as gerações futuras.

    “Ser mulher indígena é ser essência e resistência! É lutar e se auto afirmar na atual sociedade!” (Soleane de Souza Brasil Manchineri Povo Manchineri – Terra Indígena Mamoadate, Assis Brasil, AC)

    “Ser mulher indígena Kaingang é conquistar seu espaço e o poder sobre si mesma, na relação entre as pessoas, definindo-se através de seus comportamentos, atitudes, trabalhos e interesses na sociedade pública. É nosso povo, nossa história, nossas lutas, nossa cultura que faz sermos guerreiras por natureza”. (Cleci Claudino Povo Kaingang – Terra Indígena Guarita, RS)

    O livro está disponível para download AQUI.

    E se você quiser conhecer mais sobre essas histórias e acompanhar as reflexões dessas mulheres em suas redes sociais, entre em contato com elas:

    Instagram: @jessica.pripa

    Instagram:@pamela_apurina

    Instagram:@luana_cinta_larga

    Instagram:@severiaidiorie

    Instagram: @leonice.tupari

    Instagram: @walderescocta

     

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    Rodrigo Martins

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