A maior reserva indígena do país

Mais 9 mil hectares abrangem a Terra Indígena dos Yanomami. E brilha aos olhos dos garimpeiros a extração de ouro e a cassiterita, usada para fazer estanho. Ainda que a legislação proíba a mineração em terras indígenas, o presidente Jair Bolsonaro sempre deixou evidente o desejo de liberar a mineração em áreas de preservação.

Em novembro de 2020, enquanto os indígenas denunciavam a invasão dos garimpeiros, Bolsonaro questionava as demarcações. “A reserva Yanomami tem mais ou menos 10 mil índios. O tamanho é duas vezes o estado do Rio de Janeiro. Justifica isso? Lá é uma das terras com o subsolo mais rico do mundo. Ninguém vai demarcar terra com subsolo pobre. Agora o que o mundo vê na Amazônia, floresta? Está de olho no que está debaixo da terra”, afirmou naquela época.

Como não poderia ser diferente, o presidente colocou à frente da Funai um personagem semelhante: Marcelo Xavier. Após a repercussão dos conflitos entre Yanomami e garimpeiros, Xavier defendeu a legalização da mineração como solução para os problemas. E afirmou que “os garimpeiros são tão vítimas quanto os Yanomami“.

Não parece à toa que os pedidos emergenciais da Hutukara para instalação de postos avançados do Exército e apoio logístico para manutenção da segurança local tenham sido ignorados pelo governo. A Polícia Federal realizou duas grandes operações nos últimos dois anos na Terra Indígena Yanomami – as operações Yanomami e a Haraquiri. Nessa última, o foco era a destruição de pistas de pouso. No entanto, em março deste ano, a associação voltou a denunciar que outra pista – a do Homoxi –, antes usada para atendimento à saúde dos indígenas, estava sob controle dos garimpeiros. Uma terceira incursão aconteceu em julho, quando agentes da Polícia Federal, Ibama e Força Nacional destruíram maquinários usados para extração do ouro. Pouco adiantou. Os garimpeiros voltaram assim que eles foram embora.

O destino dos indígenas do Aracaçá segue desconhecido – e talvez seja melhor assim, pela segurança da comunidade. Mas a polícia afirmou, durante coletiva de imprensa, que as histórias do estupro da adolescente e morte da criança não se confirmaram. A suspeita dos ambientalistas é que os indígenas se calaram por medo de retaliações – outro ato comum dos garimpeiros contra os indígenas quando perdem com as denúncias e incursões policiais, como apontam os documentos.