Texto: Estadão
Imagem: Site Estadão/ Reprodução: Redes socias
Para além do desafio de ingresso na Universidade, estudantes indígenas enfrentam dificuldades em relação à permanência. É o que conta João Marcos da Conceição, de 25 anos, conhecido como Marquinhos Truká, indígena Truká e estudante do curso de Ciências Sociais, na Universidade de Brasília (UnB). Segundo ele, é necessário implementar políticas públicas que contribuam para que os estudantes indígenas consigam concluir os cursos.
“Quando a gente, de um povo indígena e com nossas especificidades, sai do território, é algo muito difícil. Afeta nosso psicológico de uma maneira bem desestruturante e agressiva. De mais de 270 estudantes indígenas na UnB, eu sou o único do meu povo. Não me senti tão sozinho por conta do acolhimento dos veteranos indígenas”, conta.
Marquinhos nasceu e foi criado na Ilha da Assunção, na cidade de Cabrobó, no sertão de Pernambuco. Saiu do território para cursar Física, de 2016 a 2019, no Instituto Federal do Sertão Pernambucano (IFSERTÃO-PE). Por não ter se identificado com o curso, prestou vestibular indígena e iniciou o curso de Ciências Sociais, na UnB, em 2020.
É membro da Associação dos Acadêmicos Indígenas da UnB e da coordenação executiva dos representantes regionais da União Plurinacional dos Estudantes Indígenas (Upei). Marquinhos faz parte da equipe de Comunicação da Articulação de Jovens Indígenas do Nordeste, Espírito Santo e Minas Gerais. É militante da causa indígena e da causa estudantil.
O blog conversou com o jovem indígena sobre a experiência na Universidade. Confira trechos da entrevista:
Quais são as principais dificuldades de um jovem indígena na universidade?
Depois de ingressar, um dos principais desafios dentro da universidade, a meu ver, é a permanência. Na maioria das vezes, a universidade não consegue atender nossas especificidades. Imagino que se não fosse o coletivo indígena, eu não estaria mais estudando na UnB, pois ajudamos uns aos outros. Eu e meus parentes indígenas de outros povos conseguimos ter troca e imersão cultural. Além das dificuldades culturais, passamos por dificuldades em relação a bolsas.
O que poderia ser feito para facilitar o acesso e permanência de jovens indígenas na Universidade?
Políticas de afirmação dentro da assistência social, de moradia estudantil indígena nas universidades e mais acesso a programas de bolsas. As universidades devem explicar para seus departamentos as especificidades dos jovens indígenas, porque muitas vezes não temos o português como primeira língua. A gente fala nossa língua materna de nossos povos e isso desestabiliza o nosso fluxo nas disciplinas. Muitos professores não entendem isso.
Na sua visão, qual é a importância para os jovens indígenas acessarem a Universidade?
A principal importância é sairmos da universidade com êxito e voltarmos para nossos territórios com respostas, seja na sociologia, na medicina, na engenharia, nas licenciaturas ou em outras áreas. A gente volta, porque a gente sabe de onde a gente veio e as dificuldades de quem está no território. Precisamos lutar de maneira equilibrada com quem tenta desmerecer e deslegitimar a luta indígena nesse país, para nos protegermos com a caneta, que é a arma que mais usam hoje – a tomada de decisões. A ancestralidade, como ouvi uma vez da minha irmã, é uma coisa que não se vende, mas se defende.