Amazonenses criam teclado digital que facilita a escrita em 40 línguas indígenas

Texto: A Crítica

Nesta quinta-feira (24/10), a Câmara Brasileira do Livro (CBL) divulgou a lista dos semifinalistas para cada categoria da 66ª edição do Prêmio Jabuti, um dos mais tradicionais prêmios literários do país. No Eixo Inovação – Fomento à Leitura, amazonenses estão classificados com o projeto “Linklado: fomento à literatura em línguas indígenas”.

O Linklado é um aplicativo gratuito e teclado digital que facilita a escrita e a publicação de livros e textos em cerca de 40 línguas indígenas. Com objetivo de preservar estas línguas e fomentar a leitura para uma população de 1,7 milhões de indígenas no Brasil, o projeto fez a divulgação do aplicativo e criou uma rede de tradutoras para publicar e distribuir livros em comunidades indígenas.

A equipe é composta pelos manauaras Samuel Minev Benzecry e Juliano Portela, que criaram o aplicativo, a antropóloga linguística Ana Carla Bruno, a pesquisadora Ruby Vargas Isla Gordiano e a responsável pelo projeto, a pesquisadora

Noemia Kazue Ishikawa. A lista de finalistas do Prêmio Jabuti será divulgada no dia 5 de novembro. Em 2023, o projeto também chegou a ser um dos finalistas.

Estudantes do Ensino Médio quando criaram o aplicativo, os manauaras Samuel Minev e Juliano Portela estão atualmente nas universidades de Stanford e Yale, nos Estados Unidos, cursando ciência ambiental, ciência da computação e linguística. Ambos contribuem para que o aplicativo seja baixado gratuitamente tanto nas plataformas Android, como IOS.

“Fico muito feliz de ver a causa da preservação de línguas indígenas na era digital tendo visibilidade por parte do Prêmio Jabuti. Espero que nossa iniciativa seja a primeira de muitas na direção da preservação das línguas e culturas presentes na Amazônia no longo prazo”, ressalta Samuel Minev.

Juliano Portela destaca que participar do projeto e ser novamente reconhecido pelo Prêmio Jabuti é uma honra. “No ano passado, apesar de termos sido finalistas, não conquistamos o prêmio, mas isso nos motivou ainda mais a continuar expandindo o alcance do Linklado. O projeto vai além de uma plataforma, é uma ferramenta vital para o empoderamento e preservação cultural”.

Mais alcance

A pesquisadora Noemia Kazue Ishikawa, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), paranaense que mora em Manaus há 20 anos, relembra sobre a dificuldade de publicar livros em línguas indígenas por 14 anos. “Com a criação do aplicativo pelo Samuel e Juliano ficou muito mais fácil. Nossa equipe já está no quarto livro sendo publicado usando o Linklado”, afirma Noemia.

A pesquisadora também destaca que estudantes indígenas estão usando o aplicativo para escrever dissertações e teses, mas muitos ainda desconhecem o projeto. “Por isso, acredito que o destaque que o prêmio Jabuti proporciona ao projeto amplia o número de pessoas que conheçam e usem o aplicativo para escrever mais livros em línguas indígenas”.

A criação do Linklado

O Linklado foi criado em 2022 com objetivo de preservar as línguas indígenas e fomentar a leitura entre as comunidades. Passou por uma fase de ajustes e validação de colaboradores indígenas como Cristina Mariano, Rosilda Silva, Dulce Tenório, Marinete Almeira, Josival Rezende, Josmar Pinheiro, entre outros. Depois, foi disponibilizado nas plataformas digitais.

Uma das causas do desaparecimento de línguas indígenas é a carência de literatura. Entre as dificuldades para aumentar o número de leitores está a publicação de obras nestas línguas, que foram excluídas da revolução digital por terem caracteres que não estão presentes na maioria de teclados físicos e digitais

O Linklado reúne caracteres especiais e diacríticos de diversas línguas indígenas do Brasil, facilitando a escrita e comunicação entre indígenas com uso da língua nativa. O nome do software é uma combinação das sílabas ‘lin’ = línguas indígenas e ‘klado’, que faz um trocadilho com a palavra ‘teclado’. Forma ainda a palavra ‘link’, que significa conexão.

Como resultado, Em 2023, o livro “Embaúba: uma árvore e muitas vidas” foi traduzido para as línguas Tikuna e Tukano, distribuídos para leitores indígenas da região do Alto Rio Solimões e do Alto Rio Negro. A estimativa é que cerca de 2 mil leitores indígenas da Amazônia tenham sido alcançados com a iniciativa.

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Rodrigo Martins

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