Ficha inicial com informações gerais:
Autodenominação: Teko Haw Maraká’nà (Aldeia Marakanã).
Onde estão no Rio de Janeiro: Rua Mata Machado, 126 – Maracanã / Rio de Janeiro
Situação fundiária: O território onde atualmente vivem os indígenas ainda não foi reconhecido oficialmente pelo Estado. O antigo casarão, onde funcionou o primeiro museu indígena do país, é tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC) e está inabitado devido ao seu péssimo estado de conservação. Este está protocolado para restauração e posterior utilização como Centro de Referência da Cultura Viva dos Povos Indígena do Brasil. Este compromisso foi firmado em 18 de dezembro de 2013 pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, por meio de sua Secretaria de Cultura, com o coletivo Aldeia Maracanã num documento assinado pela secretária e dezenas de lideranças tradicionais indígenas presentes no seminário que discutiu e validou o projeto.1
Quantos são na aldeia: Número indefinido
Família linguística: Sendo a Aldeia Marakanã Rexiste um espaço pluriétnico, não há uma família linguística específica no local.
Resumo histórico
A Aldeia Maracanã constitui um movimento pluriétnico de resistência e preservação das culturas dos povos originários criado em 2006 em uma área ao lado do estádio do Maracanã, na Zona norte do Rio de Janeiro, devido ao seu valor histórico para o indigenismo brasileiro.
O casarão ocupado pelos indígenas foi sede do extinto Serviço de Proteção aos Índios (SPI), o primeiro órgão voltado para a questão indígena no país, fundado pelo Marechal Rondon em 1910. Em 1953, Darcy Ribeiro havia fundado ali o primeiro museu indígena brasileiro, contribuindo para a valorização da cultura material indígena por intermédio de pesquisa e catalogação de etnias (FREIRE, 2019a e 2019b). Em 1977, o museu foi transferido para o bairro de Botafogo, onde permanece até hoje, e o prédio ficou sem uso até o ano de 2006, quando um grupo composto por 35 indígenas de 17 etnias diferentes decidiu, após uma reunião ocorrida em um evento na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), ocupar o antigo casarão e fundar ali o Instituto Tamoio dos Povos Originários. Incialmente o número de ocupantes foi variando enormemente, contanto com representantes de etnias como Apurinã (AM), Guajajara (MA), Kaiapó (PA), Karajá (GO), Krahô (MG), Krikati (MA), Pataxó (BA), Tabajara (CE), Tembé (MA), Tucano (AM) e Xukuru-Kariri (AL) (ALBUQUERQUE, 2015).
Este local emblemático foi escolhido como uma forma de protesto contra o descaso que é conferido aos patrimônios indígenas, sejam eles materiais ou imateriais. A ideia era que ali se organizasse um espaço onde as vivências e modo de viver indígena pudesse ser preservado e divulgado para a sociedade de uma forma geral (COSTA, 2011). A Aldeia Maracanã, como ficou depois conhecido o movimento, conta, desde sua criação, com várias manifestações culturais, como dança, música, contação de histórias e oficinas de diversas temáticas. Além disso, há o projeto de que seja estabelecida naquela localidade uma Universidade Indígena, onde seriam desenvolvidas atividades de preservação, estudo, pesquisa, ensino e difusão das culturas indígenas de nosso país e de outras partes da América.
Em decorrência dos impactos dos megaeventos esportivos que vieram a ocorrer no Rio de Janeiro a partir dos anos 2000, e, mais fortemente sobre as áreas do entorno do estádio de futebol, onde seria realizada a Copa do Mundo de 2014, os indígenas da Aldeia Maracanã acabaram sendo violentamente removidos do local no início de 2013.
Naquele momento o grupo dividiu-se. Uma parte dos indígenas foi transferida para alojamentos provisórios em Jacarepaguá até ser realocada, um ano depois, em um conjunto habitacional no Estácio, onde criariam a “Aldeia Maracanã Vertical”. Tendo em vista a complexa batalha jurídica envolvendo o conflito entre os indígenas e o Estado, o terreno do Maracanã permaneceu sem uso até 2016, possibilitando que outra parte dos indígenas voltasse a ocupá-lo, criando ali a “Aldeia Marakanã Rexiste”. Hoje, apesar das frequentes ameaças do poder público, os indígenas continuam existindo e resistindo, sendo um símbolo da luta dos povos originários na cidade.
Texto elaborado por Erlan Raposo e Leticia de Luna
Referências bibliográficas
ALBUQUERQUE, Marcos Alexandre dos Santos. Indígenas na cidade do Rio de Janeiro. Cadernos do Desenvolvimento Fuminense, Rio de Janeiro, n. 7, pp. 149-168, jan/jun. 2015.
COSTA, Daniele Ferreira. Quando os índios vêm para a cidade: magia e narrativa no Instituto Tamoio dos Povos Originários. 2011, 129f. Tese (mestrado em Ciências Sociais) –Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
FREIRE, Leticia de Luna. Indígenas na cidade olímpica: o caso da “Aldeia Maracanã”. KANT DE LIMA, Roberto; MOTA, Fabio Reis; VEIGA, Felipe Berocan (Orgs). Pensando o Rio: meio ambiente, espaço público e conflitos identitários. Niterói: Intertexto, p. 13-37, 2019a.
FREIRE, Leticia de Luna.Uma aldeia na “cidade maravilhosa”: conflito e resistência indígena no Rio de Janeiro. Revista Latitude, vol. 13, n. 2, pp. 97-120, 2019b.
1 Disponível em < https://aldeiamaracana.com/2015/04/04/grandes-liderancas-indigenas-do-brasil-firmam-seu-apoio-ao-centro-de-referencia-da-cultura-dos-povos-indigenas/> Acesso em 18/02/2022
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