Maricá é terra indígena

Prefeitura da cidade titulou terra de um dos dois povos da região

    Chefes da aldeia Céu Azul. Da esquerda para direita: Vice-Cacique Ernesto, Cacique Vanderlei Weraxunu e Xeramõi (líder espiritual) Félix Karaí. Foto: Julia Lima.

    O Estado do Rio de Janeiro tem 16.994 indígenas em todo seu território, segundo o Censo Demográfico 2022. E 50 deles, da etnia Guarani Mbya, moram na aldeia Céu Azul (Tekoa Ara Hovy em Guarani), localizada no Município de Maricá. Em dezembro de 2024, eles receberam oficialmente o título da terra que agora ocupam, mas a transição completa, iniciada em 2023, só foi finalizada em abril deste ano.

    Vanderlei Weraxunu, cacique da aldeia, relata que as negociações por uma terra começaram em 2016, quando estavam na região de Itaipuaçu. Eles chegaram a Maricá em 2013, liderados pelo antigo Cacique Félix Karaí, pai de Vanderlei. “A gente procurou a prefeitura contando da nossa situação, que a gente está lá, mas que precisa de apoio do órgão público. De fato, eles logo fizeram uma visita lá e viram realmente que a situação lá é muito difícil.”, conta.

    No antigo espaço, o povo não tinha acesso à saúde, educação e nem fornecimento de água, já que moravam em um local elevado. A falta de infraestrutura das residências também era um problema: todas eram feitas com materiais improvisados, e não havia como melhorá-las pela dificuldade de acesso ao local.

    Na nova aldeia foram construídas 13 ocas seguindo a arquitetura tradicional indígena; elas são feitas de paredes de pau a pique e telhado de telha e sapê.

      Novas casas de pau a pique da aldeia Céu Azul. Foto: Julia Lima.

      O projeto de mudança foi apresentado ao prefeito Quaquá (PT-RJ) no fim de seu segundo mandato, em 2016, mas a maior parte foi executada durante o governo de Fabiano Horta (2017-2024), aliado político do seu antecessor. 

      Foi durante o governo de Horta que a localidade do Espraiado foi escolhida para a nova aldeia, após uma série de opções serem descartadas. Segundo Vanderlei, uma terra foi selecionada pela prefeitura em Bambuí – bairro da cidade -, mas ela já havia sido prometida à comunidade local, o que desencadeou uma série de ameaças contra os indígenas.

      O local, que é elevado e envolto pela floresta, foi escolhido pelo espaço para a prática da agricultura e da piscicultura (criação de peixes). Além disso, cada família poderia ter sua própria oca, além de espaços de convivência.

        Espaço de convivência e entrada da aldeia Céu Azul. Foto: Julia Lima.

        Em entrevista ao Rampas, o secretário de Direitos Humanos de Maricá, João Carlos de Lima (Birigu), que esteve no governo dos dois prefeitos e acompanhou todo o processo, todas as escolhas foram feitas com aprovação do cacique após deliberação com seu povo. 

        Serviços para a aldeia 

        A nova aldeia conta com serviço de água encanada e iluminação própria, com o apoio de geradores, cozinha comunitária e área para práticas esportivas. Além disso, uma escola foi construída dentro do espaço, com o ensino bilíngue (Guarani e Português), garantido pelo artigo 210 da Constituição Federal de 1988. Também está em fase final de construção um posto de saúde para atender às necessidades dos indígenas da aldeia.

          Escola construída dentro da aldeia Céu Azul. Foto: Julia Lima.

          Quando questionado se o mesmo será feito na outra aldeia da cidade, aldeia Mata Verde Bonita (Tekoa Ka’aguy Hovy Porã, em Guarani), Birigui afirmou que, se for da vontade do povo, eles terão o mesmo tratamento. Segundo ele, já houveram conversas, mas o cacique não mostrou interesse em negociar até o momento.

          A Secretaria de Direitos Humanos do município, em conjunto com o povo, quer abrir a aldeia para visitação ainda em abril, em comemoração ao Abril Indígena. Maria Oliveira, da Coordenadoria de Povos Originários da Secretaria, afirma que a lista de espera para a visitação passa de mil pessoas. Segundo ela, novas adições só ocorrerão após a finalização deste primeiro grupo, que conta com apoiadores relacionados a projetos da causa indígena e a população da cidade.

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          Julia Lima

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