Texto: Antônio Luiz Moreira Bezerra (Site Alepi)
Universidade Federal do Piauí (UFPI) está fortalecendo a divulgação científica, com foco especial nas pesquisas indígenas, por meio de uma parceria com a Universidad Pública de El Alto (UPEA) e a Universidad Mayor de San Andrés (UMSA), ambas na Bolívia. Essa colaboração posiciona a UFPI como uma das primeiras instituições de ensino superior do Brasil a internacionalizar a ciência indígena, permitindo que estudantes de mestrado e doutorado participem de missões de estudos no exterior na modalidade sanduíche.
Segundo o reitor Gildásio Guedes, o projeto de internacionalização da ciência indígena é uma conquista significativa para a UFPI, que compartilha essa oportunidade com outras instituições, como a UFAM, UNICAMP, UFRN, UFBA e UnB. “A iniciativa fortalece os programas de pós-graduação, especialmente no que se refere às políticas afirmativas, garantindo o direito dos indígenas à educação superior. Vale destacar que a UFPI concederá o título de Doutor Honoris Causa ao Cacique Raoni, reforçando o compromisso da instituição com as políticas voltadas aos povos indígenas no Piauí e no Brasil”, ressaltou.
A assessora internacional da UFPI, professora Juliana Paz, frisa que a Universidade Federal do Piauí tem se destacado no cenário nacional pelas medidas de internacionalização através do incentivo a parcerias com instituições estrangeiras e envio de pós-graduandos para ampliarem suas experiências no exterior. “A Pró-reitoria de Ensino de Pós-Graduação (PRPG) tem sido uma importante alavanca das ações de internacionalização da UFPI, na busca por melhores índices dos programas na avaliação da CAPES, o que contribui também para uma Universidade integrada com o conhecimento produzido no exterior”, enfatiza.
Para a professora Socorro Arantes, do Programa de Políticas Públicas da UFPI, a Universidade está pioneirando uma experiência coletiva de internacionalização da ciência indígena. “Nosso objetivo é valorizar os intelectuais indígenas que estão nas universidades brasileiras pesquisando temas como sustentabilidade socioambiental, saberes ancestrais, políticas públicas e sistemas de tecnologias socioambientais”, explicou.
Seribi Tukano, estudante indígena de Medicina da UFPI e diretor executivo da União Plurinacional dos Estudantes Indígenas do Brasil (UPEI), destacou a importância do projeto: “A internacionalização da ciência indígena coloca a UFPI como uma das principais instituições de ensino superior na defesa do direito dos povos indígenas à educação e à sua internacionalização. Devemos celebrar essa conquista e encorajar outros estudantes indígenas a participar desse intercâmbio com os povos andinos da Bolívia”, afirmou.
A primeira missão de estudos conta com 10 pesquisadores indígenas das regiões Norte, Nordeste e Sudeste, vinculados à UFPI, UFAM, UNICAMP e UFRN. Desse grupo, 70% são mulheres indígenas, sendo 60% mães que conciliam a ciência com a docência em escolas básicas indígenas e com o ativismo em prol dos direitos dos povos originários. Essa iniciativa marca um momento histórico para a ciência indígena, que, pela primeira vez, será discutida sob a perspectiva dos próprios indígenas em colaboração com os povos andinos. A Embaixada do Brasil na Bolívia acolheu os estudantes indígenas no início da missão.
As missões serão realizadas ao longo de quatro anos, com a oferta de 56 bolsas de estudo de mestrado e doutorado na modalidade sanduíche, beneficiando jovens indígenas e quilombolas de todo o Brasil e de diversas áreas do conhecimento. Esses estudantes terão a oportunidade de passar de seis meses a um ano na Bolívia, o país com a maior população indígena da América Latina. “A vasta expertise dos povos andinos em políticas públicas, gestão territorial e ambiental, além do fortalecimento da cultura ancestral indígena, contribuirá imensamente para o pensamento indígena brasileiro”, concluiu a professora Socorro Arantes.