Intelectuais e lideranças indígenas se encontram em evento que articula a psicanálise com o Bem Viver

Amanhã, sexta-feira (4), na Casa de Culturas Indígenas (CCI) da USP, intelectuais e lideranças indígenas participarão de um encontro que unirá expressão artística, saberes tradicionais e psicanálise. A concentração, que ocorrerá entre as 13 e 14 horas, faz parte do evento Partilha da Luta pela Terra, organizado pela mestranda Heloiza Abdalla, poeta e psicanalista ligada à CCI e ao Laboratório de Pesquisa e Intervenções em Psicanálise (psiA), do Instituto de Psicologia (IP) da USP. Às 14h30, Heloiza defenderá sua dissertação de mestrado homônima, intitulada Partilha da Luta pela Terra — Uma Psicanálise em Confluência com o Bem Viver, na qual explora como o contato com culturas indígenas afetou sua escuta clínica.

Contando com instrumentos musicais, ladainha e a declamação de um poema escrito por Heloiza, a chamada “concentração contracolonial” receberá o capoeirista Mestre Jahça, do Departamento de Artes Cênicas da Unicamp, que tocará berimbau. Além disso, lideranças indígenas terão fala no evento, com a presença do xeramõi Sebastião Tataendy e da xejaryi Iraci, ambos anciões Guarani, e de Casé Angatu, historiador Xukuru que também compõe a banca examinadora da mestranda.

Também participarão da banca os psicanalistas Daniel Kupermann, professor do IP e orientador da pesquisa, e Mariana Leal de Barros, que coordena o Instituto de Clínica e Pesquisa em Psicanálise (INCLIPP). Em sua dissertação, Heloiza articula o atendimento psicanalítico com a luta indígena e o conceito de Bem Viver.

“O Bem Viver são essas dimensões de saúde, de modo de viver que são vários e habitam muitos povos indígenas e contracoloniais. Uma dimensão de saúde que tem noção de que a terra é um bem comum, que a terra de fato é composta por muitos, que, para haver o planeta Terra, a gente precisa de determinados princípios. É uma ética de que a natureza não é algo a ser explorado e nem é parte da gente. É uma outra relação com a natureza em que ela é sujeito vivo, pessoa. Essa dimensão de que o planeta Terra passa por essa partilha de muitos povos, muitas espécies”, explica a mestranda.

A Casa de Culturas Indígenas, que sediará o encontro, é uma Opy’i, uma casa de rezas tradicional Guarani Mbya que fica dentro do IP. Segundo Heloiza, casas de reza funcionam como o coração das aldeias Guarani, frequentadas pelos xeramõi e xejaryi (os anciões da aldeia), onde as comunidades se reúnem para rituais, cantos e danças. A estrutura localizada na USP é fruto de uma iniciativa da Rede de Atenção à Pessoa Indígena do IP, coordenada pelo professor Danilo Silva Guimarães. Tradicionalmente, de tempos em tempos, são feitos barreamentos da casa como forma de manutenção e prática espiritual.

No domingo, uma caminhada ritual

Também fará parte do evento uma caminhada ritual pelo centro de São Paulo conduzida por Casé Angatu, no domingo, dia 6. Casé Angatu é doutor pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e de Design (FAU) da USP e professor da Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhéus, na Bahia. O docente vive no território indígena Tupinambá de Olivença e, há 30 anos, realiza caminhadas rituais chamadas de Îe’engara Guatá. A concentração será no Pátio do Colégio, às 11 horas, e percorrerá o caminho até o Parque Rio-Bixiga, com destino à cesalpina – árvore plantada pela arquiteta Lina Bo Bardi como parte do projeto do Teatro Oficina Uzyna Uzona que, em fevereiro, tombou após um forte temporal. Hoje, a cesalpina está tomada por brotos em seu tronco. A previsão é de que o percurso da caminhada ritual se estenda até às 13 horas.

Ambos os dias do evento serão abertos ao público. A organização pede uma contribuição voluntária para apoiar a presença de Casé Angatu, pelo Pix 73 9 9184-3606 (Carlos José Ferreira dos Santos).

Serviço:

Partilha da Luta pela Terra (Concentração contracolonial):
Quando: dia 4 de julho de 2025, das 13h às 14h
Onde: Casa de Culturas Indígenas, na Cidade Universitária-USP (Av. Professor Mello Moraes, 1.721, São Paulo, SP)
Aberta ao público

Defesa de mestrado:
Quando: dia 4 de julho de 2025, a partir das 14h30
Onde: Sala 13 do Bloco F do Instituto de Psicologia (IP) da USP (Av. Professor Mello Moraes, 1.721, São Paulo, SP)
Aberta ao público

Guatá Toré – Caminhada Ritual para Cesalpina:
Quando: dia 6 de julho de 2025, das 11h às 13h
Onde: Concentração no Largo Pátio do Colégio, 2 – Centro Histórico de São Paulo, São Paulo
Aberta ao público

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Rodrigo Martins

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