Texto: Tote Nunes (Jornal da Unicamp)
Fora das capitais, os que apresentaram maiores quantitativos foram Campinas, com 96 etnias, Santarém (PA), com 87 e Iranduba (AM), com 77
Dados do Censo Demográfico 2022 divulgados nesta sexta-feira (24) na Unicamp, em Campinas, pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostram a existência de 391 etnias, povos ou grupos indígenas no Brasil. Esse número é 28% maior que o registrado no Censo de 2010, quando foram catalogadas 305 diferentes etnias. Entre as mais populosas estão Tikuna (74.061), Kokama (64.327) e Makuxi (53.446).
De acordo com os dados, em 2022, havia 295 línguas indígenas faladas por pessoas indígenas com dois anos ou mais de idade, ante as 274 línguas identificadas em 2010. O total da população indígena no Brasil subiu de 896.917 em 2010 para 1.694.836 pessoas, mostra o censo.
A diretora de Pesquisas do IBGE, Marta Antunes, diz que vários fatores explicam o aumento no número de etnias. Diz que houve melhora no sistema de coleta de dados, mas avalia que o crescimento nos números se deve também a outros elementos.
“Por conta do racismo histórico no Brasil, muitas vezes, a condição de indígena é escondida ou disfarçada, mas nesta última década podemos ver o processo inverso – uma afirmação étnica, seja aqueles em situação urbana ou rural, dentro ou fora de territórios indígenas”, explicou ela.
A diretoria diz, no entanto, que a pesquisa identificou o surgimento de 75 novas etnias – grupos que não haviam aparecido no levantamento de 2010. Ela diz que não se trata de povos isolados. “São, principalmente, povos indígenas que tinham parado de afirmar seu etnônimo; de afirmar seu pertencimento; que estavam diluídos e que, aos poucos, estão voltando a afirmar seu pertencimento étnico, recuperando sua trajetória, sua ancestralidade, se reconectando com sua parentalidade”, explica.
Há, também, casos de novas etnias. “No Nordeste há casos de grupos que foram se misturando entre si e que criaram etnônimos que combinam dois grupos de origem”, diz ela.
O Censo mostrou que São Paulo é a unidade da federação com o maior número de etnias (271), seguida por Amazonas (259) e Bahia (233). Mostrou, ainda, que São Paulo é o município do país com a maior concentração de etnias, num total de 194.
Fora das capitais, os que apresentaram maiores quantitativos foram Campinas, com 96 etnias, Santarém (PA), com 87 e Iranduba (AM), com 77.
“Campinas é um lugar de grande atração de estudantes indígenas, aqui para a Unicamp, mas também para outras universidades do entorno. Há, ainda, um processo migratório para trabalho, que acaba sedentarizando alguns grupos por aqui – tanto migrações temporárias como definitivas. Além disso, já há processos documentados de grupos Pankararu, por exemplo, que têm suas aldeias no Estado de São Paulo e aldeias em Pernambuco e mantêm um intenso fluxo de circulação. Portanto, há diferentes processos em desenvolvimento”, explica Marta Antunes.
Estudante indigena da Instituto de Química, Diogo Pereira de Souza está na Unicamp desde 2022. Nascido na aldeia Jaguapiru, em Dourados, Mato Grosso do Sul, ele diz que, cada vez mais, as populações indígenas são empurradas para o meio urbano. “Venho de um lugar onde 20 mil pessoas vivem em uma área de 3,5 hectares, num espaço onde convivem guaranis, terenas, kaiowás”, diz. “As populações vivem confinadas”, denuncia.
Angelina Waliperê, que está no segundo ano de Arquitetura na Unicamp, chama a atenção para a saúde mental dos estudantes indígenas. “Eles sentem muita saudade da terra, da família e precisam de ajuda constante”, apela.
O gerente de Territórios Tradicionais e Áreas Protegidas do IBGE, Fernando Damasco, atribui o aumento da diversidade étnica em cidades médias à presença de universidades, políticas de inclusão e mobilizações indígenas.
Dados gerais
O Censo traz dados gerais sobre destinação de esgoto, de lixo e de alfabetização. Mostra ainda como está o nível de registros de nascimento entre os indígenas. Constatou que entre as etnias com os maiores quantitativos de crianças de até cinco anos sem registro de nascimento, os destaques vão para os Yanomami/Yanomán, com 3.288 crianças sem registro, o que corresponde a 65,54%. Em seguida, aparecem os Sanumá, pertencentes ao mesmo agrupamento étnico, com 879 crianças sem registro (97,34%), e pelos Makuxi, com 748 crianças sem registro (7,89%).
