Texto: Jornal Nacional
No Censo anterior, de 2010, era o inverso. A maioria dos indígenas ainda morava em áreas rurais. Segundo o IBGE, eles migram para as cidades em busca de educação e trabalho.
O Censo Demográfico do IBGE detectou, pela primeira vez, que a maioria dos indígenas brasileiros vive em áreas urbanas.
Nesta selva de pedra, no centro do Rio, tem uma aldeia vertical. Um prédio onde moram 20 famílias de indígenas de onze etnias diferentes.
Niara do Sol tem 76 anos e planta pra se adaptar ao condomínio.
“O pessoal apelidou de micro agroecologia, porque só desse lado tem 37 plantas catalogadas. Aqui é amora. A gente não come, porque o passarinho não deixa, é tudo pra eles”, fala Niara do Sol, terapeuta corporal.
De acordo com o Censo 2022, existem mais 8.500 localidades indígenas no país, entre aldeias, sítios, acampamentos e comunidades. Principalmente na região Norte.
Quase triplicou o número de indígenas vivendo em cidades no Brasil. A maior parte dessa população está em centros urbanos, de acordo com dados do último Censo de 2022. No Censo anterior, o de 2010, era o inverso.
A maioria dos indígenas ainda morava em áreas rurais. Segundo o IBGE, eles migram para as cidades em busca de educação e trabalho.
“A busca de oportunidades de educação, de estudos fora das terras indígenas e indo para um contexto urbano, onde o acesso a oportunidades educacionais é maior, o acesso a oportunidades de trabalho é maior”, diz a coordenadora do Censo de Povos e Comunidades Tradicionais do IBGE, Marta Antunes.
De 2010 a 2022, a taxa de analfabetismo entre os indígenas reduziu muito, mas ainda está acima da média nacional. E a pesquisa revela que mesmo em áreas urbanas, essa população tem menos acesso a serviços básicos, como o de saneamento.
“Há uma visão cristalizada no senso comum de que povos indígenas vivem na selva, isolados. Os povos indígenas hoje estão presentes nas cidades, em bairros consolidados, nas periferias dos centros urbanos e reivindicam direitos nessas realidades”, analisa Fernanda Damasco.
Dauá é da etnia Puri. Ele veio de Paraíba do Sul, no estado do Rio, e hoje vive na capital. Fez do apartamento dele um museu e lá já hospedou muitos indígenas que chegam à cidade sem ter onde ficar.
“Viver aqui representa precisarmos ressignificar o espaço. Eu fazer minha música, fazer minha cantoria. Uma existência”, pondera o músico e escritor Dauá Puri..